Nota de repúdio ao sequestro de jovens mulheres na Nigéria
O sequestro, a venda e o uso de mulheres como escravas sexuais são crimes contra a humanidade, tanto na dimensão moral da expressão como no seu sentido legal. Estão entre os piores crimes igualmente condenados pelo direito internacional e pela Sharia islâmica.
Nada, no Islã ou fora dele, pode servir a explicar e muito menos a justificar tais crimes.
Esta é a convicção profunda dos que subscrevem esta nota de repúdio aos mais recentes atos do Boko Haram na Nigéria.
Todos, instituições religiosas ou laicas, acreditamos que, assim como Deus é inocente dos crimes que os homens cometem em seu nome, não se pode imputar ao Islã os atos de barbárie que alguns autointitulados islamistas tentam em vão justificar com base no direito islâmico ou em comunicações pessoais com o Criador.
O Islã é para os muçulmanos a última revelação do Deus único da tradição monoteísta, o mesmo Deus do antigo testamento e do cristianismo. Como as demais religiões monoteístas, assim como todas as outras tradições religiosas, a revelação islâmica impõe ao ser humano um esforço de interpretação e está sujeita à falibilidade do humano.
É a nossa convicção que esse esforço deve ter como norte o ser humano, a sua vida, a sua dignidade, e a construção de sociedades justas.
O texto da revelação islâmica não só permite, mas comanda essa interpretação. E a história do Islã e de seu direito mostra que o que hoje conhecemos como direito humanitário, a proteção dos civis, das mulheres, das crianças e de todos os desprotegidos em situações violentas, já estava em seu centro.
Não se trata de defender o Islã, mas sim de defender o ser humano e a justiça que estão no coração do Islã e deveriam estar no centro de qualquer interpretação do Islã.
Uma interpretação que justifique o rapto e o comércio de mulheres fere o Islã como fere a consciência humana e fere os muçulmanos como fere todos os homens e mulheres.
Instituto da Cultura Árabe – ICArabe e Federação das Associações Muçulmanas do Brasil – Fambras