Série de verbetes informativos sobre os árabes: Haram, por Thais Chaves Ferraz
Confira o oitavo verbete da série especial do ICArabe, que aprofunda, com responsabilidade, o conhecimento sobre o mundo árabe. A iniciativa reafirma o compromisso da instituição com a disseminação de informação qualificada e o enfrentamento de estereótipos, colaborando para uma sociedade mais informada e consciente.
Haram
Haram, palavra em árabe que poderia ser traduzida como “ilícito” ou “impuro”, permite inserção em contextualizações abrangentes, mas principalmente surge ligada aos ensinamentos do Islã. No Brasil, ganhou a interpretação de “pecado” por conta da novela “O Clone”, da Rede Globo (anos 2000), chegando até mesmo a ser usada como um tipo de bordão. Obras ficcionais, eventos e notícias divulgados midiaticamente e a presentificação de pessoas oriundas das levas de imigração árabe são parte indelével da formação brasileira como um todo, galvanizando construções identitárias, debates e interesses.
Vale dizer que a língua árabe é altamente contributiva para a composição da nossa língua portuguesa: uma miríade de palavras pode ser identificada em dicionários. Reunida em obras gramático-metodológicas desse tipo ou em discursos diários, lá está a língua árabe, com transliteração próxima daquilo que entendemos como original ou já modificada por nossos usos e falas cotidianos.
Haram é um conceito que pode ser aplicado à alimentação, por exemplo, opondo-se a halal, ou “lícito”, “bom”, principalmente conforme normas religiosas estabelecidas em diversas vertentes do Islã. Halal são atos de caridade, jejum em meses especiais no calendário islâmico e a realização de orações diárias.
Além das regulamentações dietárias, conceitos como haram são abrangentes e se conectam à ideia de integridade. Esta deve estar presente em atos e intenções, valendo também para a política, justiça e finanças: evitar bebidas alcoólicas, jogos de azar, elevação de juros etc. Até corantes presentes em alimentos processados são haram, pois provêm de insetos).
Formas de vestir-se e comunicar-se passam por julgamentos sobre o que seria haram, gerando polêmicas e ressignificações, frequentes nas comunidades islâmicas brasileiras. Preterir o haram é a meta, em alguns casos sendo necessárias releituras e diversos acordos cotidianos.
Afastar-se do haram é buscar manter-se em um caminho de licitude. Modos e falas, práticas econômicas e alimentares, leituras e novos vocábulos trazem discernimento e noções plurais do que pode ser absorvido como lícito e ilícito – incluindo-se nisso as escolhas morais, saberes e curiosidades dos coletivos nos quais estamos inscritos.
Thais Chaves Ferraz
Doutora (2022) e mestre (2015) em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense (PPGA-UFF). Jornalista pela PUC-Rio (2002), bacharel em Letras Português-Árabe pela Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ (2007) e Relações Públicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) (2019). É Pós-graduada em Marketing Empresarial pela UFF (2007).